Recentemente, a Disney se viu no centro de um verdadeiro filme de terror digital. Em abril de 2024, um funcionário da empresa baixou do GitHub uma suposta extensão para geração de imagens por IA chamada ComfyUI_LLMVISION. O que parecia ser uma simples ferramenta para turbinar a produtividade escondia um cavalo de tróia sofisticado. Disfarçado com nomes confiáveis como “OpenAI” e “Anthropic”, o malware permitiu que o hacker Ryan Mitchell Kramer invadisse canais internos do Slack e, ao longo de semanas, extraísse 1,1 terabyte de dados confidenciais da companhia. Após tentar chantagear a Disney sem sucesso, Kramer vazou todo o conteúdo como forma de protesto contra o uso de arte gerada por inteligência artificial. Ele acabou preso, mas o estrago já estava feito. Esse caso escancara uma discussão urgente: o quanto as empresas têm controle sobre o que seus times instalam, modificam e compartilham nos sistemas corporativos? Embora a origem do ataque esteja ligada à engenharia social e ao uso de software malicioso, o impacto só foi tão grande porque faltava visibilidade e rastreabilidade no ambiente interno.
E é justamente nesse ponto que o Git entra como uma ferramenta crítica. Mais do que controlar versões de código, o Git permite saber quem alterou o quê, quando e por quê, ajudando a manter a integridade e segurança de projetos, inclusive em contextos onde decisões equivocadas podem comprometer dados sensíveis. Em um mundo onde basta um download errado no GitHub para abrir portas para um ciberataque de proporções épicas, adotar um bom sistema de versionamento deixou de ser prática recomendada e virou pré-requisito de sobrevivência digital.
Mas afinal, o que é esse tal de Git ?
O que é ?
Git é um sistema de controle de versão distribuído. Isso significa, basicamente, que ele permite que várias pessoas trabalhem em um mesmo projeto de forma segura, sem sobrescrever o trabalho umas das outras. Pense no Git como um “De Volta Para o Futuro” dos programadores: ele permite viajar no tempo para versões anteriores do seu código e explorar diferentes linhas temporais, ou branches, sem causar um colapso no espaço-tempo do seu repositório. Criado por Linus Torvalds, sim aquele do Linux,

o Git nasceu em 2005 após uma DR técnica entre os desenvolvedores do kernel do Linux e um sistema de controle de versão proprietário que estava causando mais dor de cabeça do que solução. Então Linus fez o que qualquer gênio faria: criou o próprio sistema, com foco em performance, segurança e flexibilidade.
Portanto o Git é um sistema de controle de versão, que consiste em uma ferramenta que ajuda equipes a trabalhar em conjunto sem sobrescrever ou perder código.
Existem dois tipos principais:
- Centralizado (CVCS): como o SVN. Existe um único repositório central.
- Distribuído (DVCS): como o Git. Cada desenvolvedor tem uma cópia local completa.
O Git virou o queridinho da indústria por ser distribuído e extremamente rápido. E por isso está por trás de projetos como o Linux, o Android e o próprio GitHub.
Git e GitHub: Parentes, mas não gêmeos

Muita gente confunde Git com GitHub. Não é à toa, já que andam sempre juntos.
Mas atenção:
- Git é o sistema de controle de versão.
- GitHub é uma plataforma de hospedagem de repositórios Git.
GitHub permite que você compartilhe seu código com o mundo, colabore com outras pessoas, gerencie issues, crie pull requests e ainda ganhe estrelinhas no seu repositório. Além do GitHub, também temos o GitLab, Bitbucket e outros serviços que usam o Git como base. Mas Git é a tecnologia, o motor. GitHub é o carro esportivo que roda com esse motor.
Controle de versão e repositórios

Imagine que você esteja escrevendo um livro com outras pessoas. Cada vez que alguém edita um capítulo, você guarda uma cópia com as alterações, isso é o controle de versão. No mundo do desenvolvimento, um repositório Git é como a biblioteca onde esse livro está armazenado. Ele guarda todas as versões anteriores e permite comparar, restaurar ou combinar mudanças feitas por diferentes autores. Repositórios podem ser locais ou remotos. E o Git faz mágica para que tudo isso funcione sem conflito, na maioria das vezes.
Linguagem do Git

Embora o Git não tenha uma linguagem de programação própria (tipo Python ou JavaScript), ele funciona via linha de comando, com comandos bem diretos. Veja alguns básicos:

E o mais legal: é tudo texto, ou seja, o Git consegue acompanhar as mudanças com precisão cirúrgica.
Conceitos importante

- Commit: é como um salvar jogo no seu projeto. Cada commit representa um estado do código.
- Branch: ramificações do código onde você pode testar novas ideias sem estragar o projeto principal.
- Merge: a junção de duas ramificações. É quando você decide que aquela feature ficou boa e quer colocá-la na main.
- Pull request (PR): no GitHub, é uma solicitação para que seu código seja revisado e incorporado ao projeto principal.
- Fork: uma cópia independente de um projeto, útil para propor mudanças em projetos de terceiros.
Vantagens
Distribuição: Cada usuário tem uma cópia completa do repositório. Isso permite trabalhar offline e garante segurança.
Velocidade: Operações como commit, merge e diff são extremamente rápidas.
Controle granular: Você pode ver cada alteração feita por cada colaborador.
Facilidade para colaboração: Equipes do mundo todo podem trabalhar juntas, sem pisar no código alheio.
Histórico confiável: Você pode voltar para qualquer versão anterior do projeto, a qualquer momento.
Desvantagens
Curva de aprendizado íngreme: No começo, você pode quebrar tudo com um git reset — hard
Complexidade em grandes merges: Conflitos podem surgir e, se você não souber o que está fazendo, pode apagar o trabalho de alguém.
Interface de linha de comando: Embora poderosa, pode intimidar os iniciantes.
Excesso de ferramentas similares: Git, GitHub, GitLab, Bitbucket… pode confundir quem está começando.
A história do ataque à Disney mostra que, em um mundo cada vez mais orientado por tecnologia e inteligência artificial, não basta só ter boas ideias e ferramentas inovadoras, é preciso ter controle. Controle sobre o que se instala, sobre o que se altera, e principalmente, sobre como esses processos são gerenciados. O Git, apesar de parecer só “mais uma ferramenta de desenvolvedor”, se revela um verdadeiro escudo quando o assunto é segurança, rastreabilidade e organização de projetos. O Git não é só uma ferramenta técnica, ele protege, organiza, e permite que o caos do desenvolvimento se transforme em algo colaborativo e estruturado.
Se você ainda não usa Git no seu projeto, talvez este texto seja seu commit inicial rumo a um mundo mais seguro e colaborativo.
Saiba mais:
Guia completo sobre Git – Hostinger
Hacker roubou 1,1 TB de dados da Disney usando falsa extensão para IA